sexta-feira, 15 de junho de 2018

The best place to hide a book

Do arquivo:

"O Gurdjieff não era um gozador nem um vigarista no sentido vulgar da coisa. Uma cena característica do Gurdjieff: Ele chegou a Nova York e decidiu dar uma entrevista coletiva à imprensa. E apareceu por lá [sic] de 30 a 40 repórteres. E o Gurdjieff começou a falar e explicar para eles que todas as ações humanas tinham motivação sexual. Tudo que você fazia. Cada palavra, cada gesto tudo era sexo. E foi criando uma atmosfera de excitação sexual. E os caras já estavam começando a agarrar as mulheres e a fazerem suruba, ai ele disse: Para! Para! Eu disse só para ilustrar a teoria. Veja o domínio que esse sujeito tinha sobre as pessoas. Ele era um grande artista, um gênio fantástico, só que você não pode levar a sério nenhuma palavra do Gurdjieff. Tudo tem uma finalidade psicológica que é desmontar a sua sua auto estima sua auto confiança e tornar você crédulo e vulnerável a qualquer coisa. Que coisa? Algo que vinha depois. Então é a mesma coisa de você dizer nunca existiu uma doutrina Gurdjieff, só existiu uma devastação intelectual que ele fez e fez brilhantemente. 

A classe médica britânica, ele dominou inteira. Transformava cientistas em officeboys dele. Um negócio impressionante. Pegava gente do serviço secreto (Ex: o alto oficial do serviço secreto britânico John G. Bennett que depois escreveu uma biografia do Gurdjieff) acreditavam no Gurdjieff cem porcento e o Gurdjieff ria deles pelas costas. Assim como a turma do Idries Shah. Eu vi. No Idries Shah você tinha a massa de devotos e tinha a elite de comando. Quando ele via que alguém tinha jeito de formador de opinião, ele puxava pra entrar na linha de comando. E a primeira informação que você recebia, ao ser chamado para a linha de comando, era "tudo isto aqui é uma palhaçada, esses caras são uns idiotas e nós vamos tomar o dinheiro deles até o fim". Eu recebi esta informação.

Eu fui convidado para entrar na elite. A elite fazia o que? Repartir o dinheiro, era assim o negócio. O Idries Shah tinha muito mais objetivo financeiro do que o Gurdjieff. O Idries Shah era intelectualmente muito inferior ao Gurdjieff. E em matéria de poder psicológico ele era 10% do Gurdjieff. Então o Gurdjieff era um grande gênio e teve uma missão a cumprir na Europa. A missão era devastar, fazer o caos intelectual de maneira que na geração seguinte as pessoas estejam seriamente pensando em "entrar pro Seicho-no-ie, ou qualquer coisa assim". 

[...]

"Ele penetrou em altas esferas mesmo. Agora, eu digo sinceramente, o melhor leitor que o Gurdjieff teve no Brasil foi eu [sic]. Só eu entendi que era uma gozação, não uma gozação simples nem uma vigarisse [sic]. Era um plano que tinha uma penetração psicológica muito mais funda do que a aparente doutrina. Veja o Gurdjieff reunia grupos de cientistas lá no castelo do Prieuré e dizia: Vou da uma aula de cosmologia. Daí ia lá e expunha no quadro negro o sistema cosmológico com todas as equações etc. O pessoal ficava deslumbrado porque eram teorias físicas ultra modernas que ninguém teria suspeitado jamais. Daí no dia seguinte o Gurdjieff chegava e dizia: Não é nada daquilo. Eis aqui outro sistema. E expunha. Coisas que um físico levaria anos para conceber o Gurdjieff em 10 minutos concebia, botava na lousa, enganava cientistas profissionais. Daí todo mundo ficava deslumbrado com o segundo sistema, no terceiro dia tinha um outro e no quarto tinha um outro. Ele "criava 10 sistemas cosmológicos" capazes de enganar cientistas profissionais. Depois disso o que acontecia com eles? Eles entravam em estado de "snapping", onde você está totalmente desorientado, perde a capacidade do discernimento e agora aceita qualquer coisa. Que é uma coisa que outros gurus aplicam em jovenszinhos [sic], estudantes etc etc. Mas o Gurdjieff aplicava isso em cientistas e os caras caíam. Em agentes dos serviços secretos. Os caras caíam. Em governantes, em grandes escritores. E os caras caíam. E eram levados quase ao desespero. Leiam o livro do Monsieur Gurdjieff do Louis Pauwels. É um livro contra o Gurdjieff, mas ele mostra que ele ainda tem temor reverencial dentro dele pelo Gurdjieff, passados 30 anos. Arthur Koestler que acabou estourando os miolos (junto com a esposa). Nunca teria acontecido isso se tivessem passado pela escola Gurdjieff. 

O Gurdjieff foi um agente da guerra cultural. O melhor agente que a guerra cultural já teve. Sem Gurdjieff todo esse negócio de islamismo e etc... as pessoas tinham uma defesa instintiva contra isso, o Gurdjieff foi lá e desligou essa defesa instintiva. E com isso o Ouspensky que não entendeu absolutamente nada, mas entendeu à sua maneira, entendeu que era uma doutrina científica séria. E a expôs e o Gurdjieff riu da cara dele."

Olavo de Carvalho, COF - "aula 319" 

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"O melhor esconderijo para um livro é em uma biblioteca, na cara de todo mundo."