BREVE APRESENTAÇÃO

Incontáveis vezes, eu já chamei o Brasil de “anomalia aberrante”: antes de mim, o Tim Maia, se não me engano, já havia notado o fato e criado uma “boutade” que ficou famosa: “o país no qual prostituta se apaixona, gigolô sofre com ciúmes e traficante se vicia.”

Neste cenário anômalo, eis que surge  mais uma insólita figura – a do “filósofo incriticável”.

Nelson Rodrigues, com certeza, incorporaria  este novo personagem à sua insuperável galeria de  tipos emblemáticos , junto com o “padre de passeata”, a “estagiária de calcanhares sujos”, a “grãfina das narinas de cadáver”, o “cunhado canalha”, a “vizinha gorda e patusca”, os “idiotas da objetividade” e tantos outros.

Bom e saudoso Nelson!

O grotesco, o vil, o postiço  - nunca lhe escapavam, e ele acertava todos com a sua pena certeira e a sua verve fulminante... Foi o cronista de um país ainda cheio de vivacidade, no qual tais figuras apenas começavam a despontar – configurando o nascimento daquilo que ele tão corretamente chamou de  “A REVOLUÇÃO DOS IDIOTAS”.

Mal sabíamos nós que a esta horrível revolução se sucederia outra, que lhe serviria de espetaculoso  complemento:  a  “FALSA REAÇÃO DOS COOPTADOS”.

Outro dia eu li uma declaração de um desses, que me trouxe aquela melancolia que nos acomete ao olhar uma ruína:  "Ainda bem que eu nunca disse que devemos pensar com as nossas próprias cabeças, nem nada parecido. Eu morreria de vergonha disso."

Em suma, a pobre criatura foi adestrada a considerar  que qualquer um  que  tenha a idéia de pensar pela própria cabeça  deve sentir vergonha disto.

Francamente.

Não é possível assistir a uma desgraça deste quilate, que implica num trabalho solerte de ablação cognitiva em diversos níveis – sem que seja feito um esforço no sentido de centralizar e organizar um conjunto crítico  que represente uma real oposição a esta aberração insolente.

ESTÁ PORTANTO ABERTA A SAVANA, o território no qual a justa crítica é bem-vinda, e a verdade e a honra  guardam a entrada.