Leio, abismada, a estapafúrdia "acusação" - o fato de estar ao mesmo tempo administrando a fervura de um doce de goiaba em calda contribui para a sensação de ter, inadvertidamente, penetrado no delírio de um portador de paranóia.
A "acusação" é feita a mim, descrita como "uma hiena com disforia de 'gênero' e que pensa ser leoa" (en passant eu automaticamente corrijo mentalmente a 'disforia' como referente à espécie, e não ao gênero) que, em conluio com "um místico de um instituto macabro português"[sic] e um "desenhista que se parece uma charge"[sic], formaríamos um trio de "agentes de uma organização criminosa do leste europeu, e estaríamos tentando nos beneficiar financeiramente do Olavo de Carvalho".
Sim, eu sei: isto não é coisa que se leve a sério, evidentemente - é para rir, que foi o que eu fiz.
Mas a espantosa e delirante "acusadora" não é a única - ela representa uma em uma quantidade muito maior de pessoas - e, neste caso, a "acusação" paranóica e alucinada deixa de ser coisa meramente grotesca, análoga a acusar o entregador de pizza de ser membro da KGB, para passar à categoria de fenômeno coletivo - e, neste caso, passa também a merecer uma análise.
É evidente que tal indução, sofrida por pessoas diferentes, e portanto coletiva, tem obrigatoriamente que ser feita através de um mecanismo que seja atuante sobre todas elas - há que existir uma via eficaz para que a indução coletiva se efetue, e esta via tem que ser COMUM a todas as pessoas induzidas.
Em resumo, a questão é - qual é esta "via comum", e qual ou quais são os métodos que induzem o delírio coletivo?
O absurdo da "acusação" certamente a torna tão estapafúrdia que qualquer pessoa normal cairá na gargalhada e dirá que ela não será levada a sério, e portanto não causa dano real - mas perceba, leitor: não se trata DESTA "acusação" em si - mas sim, repito, do mecanismo de indução coletiva!
O mecanismo capaz de levar pessoas aparentemente normais a descair voluntariamente para um estado de demência cognitiva e imoral leviandade - a ponto de formular uma "acusação" deste tipo, por grotesca que seja, em midia pública.
Os extraordinários Pieter Bruegel e Hieronymus Bosch me vêm à mente, por autores de obras que tão adequadamente mostram um alarmante contexto fundado na calúnia, na difamação, na vaidade pérfida, na banalização do uso de práticas viciosas - enfim, no completo descontrole moral e intelectual, efetuado em escala coletiva.
Prevejo e aviso, leitor, que a análise será longa...