quarta-feira, 13 de junho de 2018

Estranha indiferença


Em recente post publicado no seu perfil de Facebook, o filósofo Olavo de Carvalho exprimiu a mais absoluta certeza de que será lembrado daqui a cem anos pelos méritos de sua obra. Seu fiel discípulo e admirador fervoroso, Filipe G. Martins, costuma listar uma dezena de supostamente notáveis contribuições de Olavo de Carvalho à filosofia. 

Nessas circunstâncias, é verdadeiramente um fato digno de assombro a visível indiferença do Prof Olavo a ter seus livros e teses filosóficas traduzidas para o inglês. Ora, qualquer sábio medieval que se tivesse em alta conta jamais se furtaria à necessidade inapelável de ter sua obra publicada diretamente, ou ao menos traduzida, em latim. Nos dias que correm, não há nada mais próximo do latim do que o inglês. 

Então, por que, em nome de Deus, Olavo de Carvalho não envida nenhum esforço significativo para ter seus escritos filosóficos traduzidos para o inglês? Se uma obra merece ser lida daqui a cem anos, então ela certamente também merece ser estudada por um círculo mais amplo de estudiosos aqui e agora...

Estranha indiferença é essa...

Bem sabemos que críticas ao mestre são sumariamente repelidas pela sua entourage de admiradores cegos e quase sempre intelectualmente mal formados. Gente que curte postagens sobre Schelling e Louis Lavelle, mesmo sem ter a menor ideia do conteúdo da obra desses autores. É que admiradores deste jaez são em tudo idênticos às multidões que passaram a acorrer às palestras públicas de Einstein, uma vez adquirido seu status de celebridade. Não lhes interessava entender nada. Bastava-lhes sentirem-se próximos de uma fonte de maravilhamento e assombro. Desses admiradores do autor da teoria da relatividade, que de relatividade nada entendiam, deve-se dizer, no entanto, que ao menos não hostilizavam os de fora, os não convertidos à idolatria. Caso bem diverso se dá nas hostes olavianas. 

Ao próprio Olavo convém a manutenção desse estado de coisas. Em resposta ao comando do mestre, qualquer crítico brasileiro do pensamento de Olavo será inevitavelmente submetido ao escárnio impiedoso dos seus aduladores. Não admira que tantos possam sentir-se intimidados.

Imaginemos, num cenário alternativo, que fosse dada a Roger Scruton a oportunidade de ler Olavo de Carvalho em inglês. Suas opiniões, mesmo que eventualmente negativas, não seriam em nada afetadas pelo coro vociferante dos olavettes.

Mas sejamos ainda mais diretos e objetivos. Inter alia, Olavo de Carvalho publicou livros, reputados notáveis por ele mesmo, sobre Aristóteles e Descartes. Entre os especialistas de proa nesses autores, podemos citar respectivamente Jonathan Barnes e John Cottigham. O que Barnes e Cottingham pensariam das monografias de Olavo de Carvalho sobre Aristóteles e Descartes? 

Não sabemos. Não fazemos a menor ideia. E, ao que parece, jamais saberemos. Olavo de Carvalho não parece interessado em que alguém o descubra. 

Por quê?

Wallakib